segunda-feira, 11 de junho de 2012

Novo programa de Pedro Bial na TV Globo será palco para embate de ideias


Avisa lá em casa que o novo programa do Pedro Bial na Globo não é, nunca foi e não será um talk show, como andaram dizendo e reprisando por aí. Na Moral põe na roda mais de uma história a ser contada, e contada de formas diversas – vale docudrama (documentário + dramatização), música e até HQ – sem nunca abrir mão do testemunho de seus protagonistas. “A pessoa é que é o show, ou as suas ideias, mas é claro que as ideias não vêm do céu”, diz Bial ao Estado, em sua primeira entrevista sobre a nova cria. Estreia dia 5 de julho, nas noites de quinta-feira.
“As ideias são o nosso frescobol. É a bolinha sendo jogada de um lado para o outro, sem deixar cair”, emenda. Na definição de Marcel Souto Maior, parceiro do jornalista de outras jornadas e redator final do novo programa, a essência está na arte de colocar frente a frente pessoas com visões distintas sobre um mesmo tema, sem que a razão de um exclua a razão da outra. “O Bial fica ali só colocando lenha na fogueira”, fala Marcel. “Dizem que no jornalismo a gente tem que ouvir os dois lados. A gente entende que no programa há muito mais que dois lados a serem ouvidos. Vamos rodear o assunto por todos os lados, pensar, com perdão da palavra, dialeticamente, aquele assunto”, completa Bial.
Na Moral nasce como temporada de nove edições, sob direção geral e de núcleo de Luiz Gleiser, que empresta esses mesmos créditos ao Som Brasil. Não por acaso, um dos fortes do novo programa é a música: um dos convidados fará as vezes de DJ, sempre evocando possibilidades de trilha sonora para o tema do dia. “O convidado para ser DJ vai ser ‘brifado’ no tema, quer dizer, ele traz a eleição dentro do seu repertório e a gente também vai suprir isso com uma pesquisa à disposição dele, relacionada ao tema”, conta o apresentador. “Temos um cancioneiro tão rico, que seria um desperdício não aproveitar isso: tem sempre uma canção para cada história.”
Os participantes podem ser anônimos ou conhecidos, não importa. Uma condição não exclui a outra. O que nenhum dos três quis nominar ao Estado foram os temas, já escolhidos, para nortear a série. Não convém ainda que a concorrência tome conhecimento de toda a receita do bolo. “O que a gente pode dizer é que são grandes questões de comportamento que afetam todo mundo”, antecipa Gleiser. “São temas para intrigar a família brasileira. Sabe aquele assunto que a filha puxa com o pai na mesa de jantar e ele fica perdido pra responder? Pois é, nós queremos ajudar a desembaraçar esse nó”, emenda Bial.
Marcel se apega ao termo “embate”, mais do que “debate”, para descrever o que seria o DNA do programa. Bial endossa, mas adverte que não tem medo do jargão de “programa de debate”. Seja o que for, as cenas em questão justificam a presença do apresentador em um palco, com uma pequena plateia – “de 40 a 60 pessoas”, define Gleiser. Palco que bem faz as vezes de ringue de boxe – “espero que ninguém dê um soco em ninguém, e nem é esse o meu estilo”, ri Bial. “Quero ouvir as pessoas dando o seu testemunho. Não é só uma abordagem intelectual.”
Big Brother Brasil
Até por instigar a discussão em torno do certo e errado, e mesmo da ausência do juízo final em situações diversas, o batismo do programa passa longe da força de expressão. “É uma coisa que o meu filho diz frase sim frase não, e adoraria, aliás, que essa garotada se interessasse pelo programa”, fala. Não faltarão provocações para fazer vir à tona esse conjunto de regras que determina, socialmente, o que é moral, amoral, imoral. “Essa discussão é muito divertida, às vezes chega a ser ridícula.”
Aparece até, e como aparece, naquele outro programa que promove o cartaz mais famoso do apresentador, o tal do Big Brother Brasil, e lá se vão 12 edições feitas por ele. Na última, o debate (sob e sobre os edredons) esbarrou até em polícia, rendeu suspeita de estupro e tal. “Quando veio a participante do Big Brother da Espanha para dentro da casa, o assunto ganhou destaque em todos os portais de internet do País porque ela tirava a roupa pra tomar banho, mas era uma coisa tão inocente, sem apelo algum. E eu pensei: estão fazendo todo esse barulho? No país do carnaval, do créu, da boquinha na garrafa?”
É comum que ele comece a descrever a alguém a ideia de abordar moral na faixa nobre e o interlocutor venha logo a festejar, enfim, que se rasguem as máscaras de Brasília – como se o Planalto Central fosse um terreno à parte dos males que permeiam o caráter do resto da nação. “Isso seria macropolítica, estou mais interessado na micropolítica, nas decisões que a gente toma todo dia. Como você trata a empregada doméstica que trabalha na sua casa? E o garçom? E o porteiro? É trazer isso para o dia a dia das pessoas.”
TV Vanguarda
Nesses dias em que a tendência mundial é formatar programas e vender a fórmula para vários países, com elenco e sotaque próprio em cada nação – indústria, aliás, que tem no Big Brother o exemplo mais bem-sucedido do planeta – a criação de um programa original é empenho raro. Mas Bial dispensa a pureza do ineditismo. “Hoje em dia, é difícil dizer que alguma coisa é inovação. Tudo o que tinha de ser feito já foi feito. Prefiro falar em ‘renovação’”. Assim é que ele cita algumas fontes que abastecem as ideias suas, de Marcel e Gleiser, na busca por um novo “biscoito fino” na TV aberta, algo que não perca a condição palatável para a massa, mas que seja capaz de promover iluminação e enquadramento longe do lugar comum.
Como referência de luz, Bial fala de uma entrevista, a última, de Clarice Lispector, disponível noYoutube. Menciona o portal de vídeos do New York Times, onde não necessariamente são seguidos os códigos do telejornalismo. E se estende, em tom apaixonado, ao citar a referência mais forte, fincada lá nos anos 60, quando Fernando Barbosa Lima, Borjalo “e todo aquele time” faziam o histórico TV Vanguarda. “Estamos mergulhando numa piscina que pode estar cheia ou vazia. Espero que esteja cheia”, brinca o jornalista e cineasta.
Vem do cineasta, a propósito, outra fonte de referência a ser adotada em Na Moral. É que Gleiser mencionou ter gostado de alguns conceitos usados em Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, documentário recém-lançado, dirigido por Bial. “É um cuidado no olhar, uma câmera que não é protocolar: por que tudo tem que ter plano e contra-plano? Vamos procurar esse caminho, mas sempre tendo em vista que a clareza é fundamental.”
Fonte: Estadao.com.br

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